"Esta açordinha até dá vida aos mortos!": de comida da fome a comida de elite

Abstract

É objetivo do presente texto refletir acerca dos processos sociais e culturais que levam à transformação da “comida de pobres” em “comida da moda” e em “comida das elites”, no contexto do Alentejo e compreender de que modo a memória social é construída e imaginada, no que concerne aos alimentos considerados como comida e, de como neste processo, se forjam identidades.A abordagem metodológica é ancorada em trabalho de campo, realizado numa primeira fase, nas cidades de Serpa e Beja mas também na periferia de Lisboa, mais concretamente nos concelhos do Barreiro e Moita. Procedeu-se à análise de ementas de restaurantes que reivindicam servir “comida tradicional” e recolheram-se depoimentos de funcionários (cozinheiros e empregados de mesa), proprietários e clientes. Para a Recorreu-se ao apoio bibliográfico da Carta Gastronómica do Alentejo, para verificar a denominação dos pratos indicados pelos informantes e a dois dos livros de cozinha que organizam as receitas por regiões de Portugal – no presente artigo apenas se apresentam dados sobre estes livros, publicados nos anos oitenta do século XX. Foram, ainda, recolhidos depoimentos e narrativas de vida de naturais dos concelhos de Beja e Serpa aí residentes e migrantes idosos, há muitos anos residentes em localidades dos concelhos do Barreiro e Moita e, ainda, de descendentes destes. No presente texto apresentam-se declarações apenas dos residentes e naturais dos concelhos de Beja e Serpa, dado que se explorará sobretudo a representação que estes têm sobre a comida de casa versus comida de restaurante e que se terão em conta as ementas de restaurantes de Beja e Serpa.